sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

FAXINA NA CRACOLÂNDIA

Fonte imagem: Internet

Faxina na Cracolândia 
*Conceição Cinti

Por falta de Morros “famosos” como os do Rio de Janeiro, numa ação integrada, o Governo Estadual e a Prefeitura de São Paulo, se unem não para promover a adequada profilaxia contra as drogas, mas por pura estratégia de marketing decidem evacuar os dependentes da Cracolândia do Centro de São Paulo. Sem programas de políticas públicas definidos para o tratamento dos dependentes, nem local apropriado  para acolhê-los. Evitar a exposição desses “mortos vivos” em áreas nobres e evacuar os viciados do Centro, não significa acabar com o problema, mas retardar a solução, transferindo-os de forma aleatória para outros logradouros.
Nada contra os investimentos e esforços necessários para revitalizar espaços comerciais e culturais, que sem dúvidas proporcionarão mais qualidade da vida urbana, mais segurança, além de incentivar investimentos, que possibilitarão o aumento de empregos e do turismo, o reprovável em atitudes como essas é priorizar o avanço do progresso, sem apresentar nenhuma alternativa para solução da dependência no Estado.
Com essa atitude as autoridades: estadual e municipal demonstraram inaptidão, para lidar com esse grave problema social e de saúde pública delegando erroneamente, a responsabilidade desses “míseros enfermos” a Polícia Militar, que apenas executou ordens. Na força espoliaram os miseráveis retirando deles seus únicos pertences: trapos. Como diz o renomado Jurista Luiz Flávio Gomes, nesse país, essa categoria de pessoa que é só corpo, é torturável, aprisionável e mortável.

Muito tem se falado e escrito sobre o perfil desse novo tipo de dependente, e das dificuldades para convencê-lo a aceitar tratamento, devido as grandes alterações que a droga provoca na personalidade e em seus valores éticos, além de torná-los desconfiados e arredios ao contato com pessoas que não façam parte do seu mundo, o das drogas. Há no perfil desse novo paciente, até recentemente definido legalmente como marginal, uma insanidade muito semelhante ao dos comportamentos xiitas em suas práticas radicais. Focado, exclusivamente, na busca pela próxima pedra, o usuário de crack não se importa em morrer ou matar para satisfazer sua necessidade da droga demonstrando total ausência de autocontrole e subserviência ao vício. Há nesse vício algumas especificidades que não encontramos em outras substâncias psicoativas, o que sugere que as pessoas adequadas para atuar no tratamento do dependente de Crack, tenham além do conhecimento teórico, vocação para lidar com o ser humano e experiência de campo.

Pressão, faxina e repressão são instrumentos recomendados na guerra  contra o traficante, mas é perversa e desnecessária sua utilização para coagir o dependente químico!

Para combater a dependência que assola o Brasil parece que o mais apropriado é a implantação de reformas estruturais e de base, concomitantemente, com políticas públicas voltadas especificamente para o tratamento do dependente, sob a direção de pessoas, que tenham experiência em lidar com o ser humano, preservando sua dignidade. Porém a verdadeira saída somente virá através da Educação Restaurativa.

* Conceição Cinti - Advogada. Educadora. Especialista em dependentes de substâncias psicoativas. Com experiência de mais de 27 anos no tratamento de dependentes.

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