quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

POR QUÊ?



POR QUÊ? 



*Conceição Cinti


Certa ocasião fui surpreendida por um jovem de 13 anos, bem articulado, dependente químico, fazendo-me a seguinte pergunta: “Por que os artistas e muitas pessoas ajudam nas campanhas para as crianças e jovens da APAE, Criança Esperança e, Teleton, mas eu nunca vejo ninguém fazendo campanha para ajudar a criança e os jovens drogados?” Confesso que a pertinente pergunta na ocasião me silenciou, mas ficou cravada na minha mente e, com frequência eu me pegava refletindo sobre o quanto àquela pergunta calará em mim e, exigia mais que uma resposta, uma atitude de coragem, um engajamento na luta pela prevenção e restauração dos dependentes químicos. Por que não? 
Hoje passei por aqui para tentar compartilhar juntamente com você meu leitor atento, a resposta mais provável do por que dessa atitude, onde muitos de nós expressamos e não me ocorre outra razão, que não seja o velho preconceito velado. Este é gerado pela desinformação e intolerância, e a nossa tendência humana perversa de reagir com indiferença ao drama que afeta o outro, o próximo, o vizinho, como se pudéssemos sobreviver cada um à sua maneira, e assim evitássemos atrair para nós as tragédias sempre antes vivenciadas pelas comunidades mais pobres e que ao depois sempre afetam toda a sociedade brasileira. O povo brasileiro em geral tem-se mostrado sensível, principalmente, quando as tragédias afetam crianças e adolescentes, desde que não sejam menores dependentes químicos. Porém o sentimento que de fato ajuda a vencer essa luta é o de inclusão, que não deixa ninguém a margem. Lembrando que amar não é um sentimento é um mandamento. Se não temos condições emocionais para amar essas crianças e jovens, por amor a nós mesmos e aos nossos queridos precisamos nos engajar. 
Adoro participar de qualquer campanha filantrópica para ajudar a melhorar a vida de quem quer que esteja precisando, por consciência de que o equilíbrio econômico-social entre as pessoas evita tragédias. As estatísticas têm apontado que os menos favorecidos economicamente têm sido mais vitimados pela violência, injustiça e a morte precoce. Porém essa mesma categoria de pessoas tem sido responsáveis pela maioria dos crimes contra o patrimônio e homicídios. E nessa guerra civil não assumida, o denominado efeito “bumerangue” da violência imposta é restituído velozmente e demonstrado através dos alarmantes números de mortes tanto de nossas crianças e jovens dependentes químicos como de civis aleatoriamente assassinados. 
Uma coisa salta aos olhos nessa guerra insana contra as drogas, o menor dependente químico nunca foi alvo do acolhimento e tratamento adequados, mas da repulsa e repressão. Perante a Lei todos somos iguais, na prática o que assistimos é a ausência de interesse político para combater as causas porque dá muito trabalho e exige persistência. A sociedade precisa exigir o combate das causas e não se contentar com a exposição dos efeitos danosos que além de não oferecer solução desperta o desejo pela vingança na sociedade, que clama por justiça, solução e não medidas paliativas.
Vamos vestir essa camisa e levantar esta bandeira!



* Conceição Cinti - Advogada. Educadora. Especialista em dependentes de substâncias psicoativas. Com experiência de mais de 27 anos no tratamento de dependentes. 

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