sábado, 28 de janeiro de 2012

REPRESSÃO PARA IMPEDIR A OCUPAÇÃO É A SOLUÇÃO?


Fonte da foto: Internet


Repressão para impedir a ocupação é a solução?

*Conceição Cinti

O fato de impedirmos os dependentes de ocuparem aquela região central, não significa que acabamos com a cracolândia do centro de São Paulo, que ao longo dos anos alastrou-se e fixou-se também nas periferias e no interior do Estado. Em nossa opinião os procedimentos adotados são frutos da pouca informação que o próprio Poder Público detém sobre o histórico e o avanço das demais formas de acolhimento e tratamento existentes e que, é adotado pela iniciativa privada em razão da omissão do governo a esse relevante segmento, o adicto de substâncias psicoativas e em especial do crack. 

A medida dificultou ainda mais as abordagens que estavam sendo feitas e que com o tempo tinham chances de ganhar a confiança dos adictos do crack, nada acessíveis a qualquer enfrentamento de fora do mundo das drogas. O Homem é falível, portanto suscetível de erros, mas com seres humanos é intolerável persistir em procedimentos tortuosos. Esperamos que de espíritos desarmados possa ser possível refletir melhor e evitar novas medidas inadequadas e censuráveis contra seres humanos fragilizados e indefesos. 

O problema é complexo e grave, exige vontade política sim, mas também muita aptidão e persistência na lida diária com o adicto do crack. Não é um problema que possa ser resolvido em curto prazo, até porque apesar das duas décadas convivendo com o crack, os governos deixaram transbordar para só agora enfrentá-lo adequadamente. Há poucos especialistas que de fato sabem lidar na prática com essa nova realidade: o paciente/adicto do crack que requer mais que uma esmerada formação acadêmica, mas, sobretudo vocação e amor incondicional para cuidar de gente em situação extrema de vulnerabilidade. 

Sem políticas públicas de prevenção, de acolhimento e tratamento, sem Educação Restaurativa, ao invés de solução estaremos fazendo uma simples faxina, que acredito não seja o objetivo do Poder Público nem da expectativa da sociedade civil, grandemente abalada por esse grave problema de saúde pública. Da união do Poder Público e da Sociedade Civil é que reuniremos força suficiente para vencermos essa “guerra civil” não declarada da qual criança e adolescente são as maiores vítimas. Não se omita nessa luta o Brasil conta com você! 



*Conceição Cinti - Advogada. Educadora. Especialista em dependentes de substâncias psicoativas. Com experiência de mais de 27 anos no tratamento de dependentes. 


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