domingo, 15 de janeiro de 2012

A SOCIEDADE ATUAL E A IDEAL

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A Sociedade Atual

 *Conceição Cinti

Como demonstrado no gráfico acima, a sociedade brasileira por sua cultura e situação econômica, assume uma postura separatista, colocando cidadãos que não se encaixam em um perfil pré-determinado em uma posição marginalizada, com forte tendência a agravar-se, mais quando somados aos preconceitos nomeados na parte cinza do gráfico. Já o circulo menor, localizado ao centro, representa a sociedade brasileira, com seus direitos assegurados no artigo 5º da nossa Carta Magna,

A fim de estabelecer comunicação entre estes dois mundos em uma mesma nação, a seta com a inscrição “INSERÇÃO”, representa o que hoje são consideradas ferramentas do Governo que são: escolas públicas, instituições não governamentais, centros profissionalizantes, hospitais, ginásios esportivos comunitários, etc.

Infelizmente esta ponte de acesso à cidadania, está obstruída pelo preconceito, discriminação, exclusão, despreparo, psicológico e pedagógico das pessoas incumbidas em administrar e materializar a Lei.

Não estamos querendo culpá-las, mas mostrar que no exercício dessa tarefa, é extremamente necessário dar o melhor exemplo ao restante da sociedade, assumindo um comportamento diferenciado, com compromisso de valorização, respeito e igualdade as classes menos favorecidas, para que haja a recuperação da dignidade, da auto-estima  da sociabilidade.

Na verdade muitos falam em reinserção, mas não se trata de reinserção, pois estas pessoas marginalizadas pela sociedade nunca foram inseridas nesse contexto social de cidadania, nunca usufruíram direitos garantidos por nossa Lei e Constituição, só conhecem deveres, que por consequência, torna-se uma reação em cadeia, resultando os altos índices de drogadição, prostituição e criminalidade.

As Instituições não governamentais convivem com esses problemas diariamente e apesar de ser uma das ferramentas do Governo, por promover o que a Lei garante as crianças e Jovens, vêem-se, muitas vezes, de mãos atadas, pois são coagidas por pensamentos retrógrados dos administradores públicos que penalizam a sociedade marginalizada, justamente por não ter essa consciência de unidade em busca da cidadania para todos os brasileiros.

Um exemplo disso é o tratamento negativo que as crianças e os jovens dependentes recebem nas escolas públicas, tratamento este que deveria ser amoroso e não opressor. Vemos claramente a falta de preparo para administrar problemas que fogem da normalidade, mas que não ultrapassam a competência da escola. A Comunidade Terapêutica como escola de prevenção, reabilitação e treinamento de profissionais para lidar com esta nova e assustadora realidade do avanço das drogas, cumpriu seu papel quando com antecedência alertava a sociedade e o Poder Público  da necessidade da rede de ensino estadual e municipal passar por um processo de treinamento e informação a respeito de menores portadores de dependência ou infratores, e que são alunos (ou deveriam ser), até por obrigação imposta pela Carta Maior e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, mas não houve por parte do Poder Público nenhuma movimentação para adequar espaços físicos para acolhê-los, nem capacitar os professores e operadores da  saúde para enfrentarem adequadamente  esse a nova classe de aluno/ paciente.  Continuar tentando resolver problemas pertinentes às áreas da educação, saúde e social com medidas repressivas não é saída apropriada, pois irá desencadear ainda mais violência que é cega e atinge a todos nós, não tendo fronteiras de classe social, como temos assistido dia a dia.

Sabemos das péssimas condições do ensino público, e que não é diferente das condições impostas à saúde em todo o país, escolas e hospitais sucateados, e o pior a desvalorização do professor e do médico do SUS são lamentáveis e inaceitáveis. Não há tradição do comprometimento com os profissionais da educação e da saúde por parte do Poder Público, nem a busca constante pelo aprimoramento e a excelência dos serviços públicos prestados aos mais carentes.  No caso da educação a situação está complicada porque quem antes atendia apenas alunos, hoje terá que atender um nova categoria de aluno, o aluno/paciente, o dependente de substâncias psicoativas. É preciso ficar atento para essa nova realidade, os alunos não são os mesmos de décadas atrás, mudou-se a “clientela” no aspecto comportamento pela ausência da intervenção do Poder Público com políticas públicas consistente e adequadas  para as  áreas de Prevenção e Restauração de Pessoas. 
A escola sempre teve e sempre terá um “papel” fundamental junto à família do aluno, esse elo entre escola e família precisa ser reforçado, mormente hoje que a família está muito desestruturada. A escola será a continuidade da família do aluno, sendo assim os professores precisam ser dignamente remunerados e não devem ficar estagnados em apenas preparar tecnicamente o aluno para o mercado de trabalho, mas prepará-lo em conjunto com a família para enfrentar os graves problemas sociais e a se relacionarem com as demais pessoas.

Gostaria de ir mais além, colocá-los a imaginar uma cena que faz parte da realidade do nosso país. Sabemos que família e escola são dois alicerces na formação do caráter de uma pessoa. Imagine uma criança ou um jovem desamparado e ignorado pela família, o que resta? Somente a escola. Agora imagine essa mesma criança ou jovem também recebendo este mesmo tratamento do corpo docente de sua escola ou instituição. O que acontecerá? Por estudos na área da psicanálise e por dados estatísticos, essa criança ou jovem tende a procurar pessoas que o acolham, essas pessoas, na maioria, são bandidos, traficantes e exploradores sexuais. É o que infelizmente temos assistidos nos dias de hoje.     

Outro exemplo a ser explanado é a visão de muitas entidades que lidam com crianças e adolescentes, preocupando-se apenas com o sustento físico e com a reabilitação temporária. São, na verdade entidades sem compromisso com a cidadania, uma vez que enquanto mantém a criança ou o adolescente em internação, acham por suficiente e encerrado seus trabalhos, não enxergando que seus internos atingirão a maioridade e não terão uma profissão que os permita seguirem seus destinos com autonomia financeira,  o que evitaria a reincidência. Muitas dessas entidades, pela visão comodista e até mesmo subliminarmente preconceituosa, acabam tornando-se meras prisões com o fim de separar o que é considerado “ruim” da sociedade produtiva. Não seria o caso da Fundação Casa?  Quando esses jovens chegam ao mercado de trabalho, estão completamente despreparados tornando-se presas fáceis dos criminosos traficantes e exploradores sexuais.



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A Sociedade Ideal



Para concretizar o gráfico acima materializando-se a sociedade ideal é preciso enterrar velhos hábitos e conceitos defasados, e adquirir a tão necessária consciência e valorização da cidadania, rumo a uma sociedade igualitária. Não estou me referindo a uma sociedade utópica onde não haja problemas e dificuldades, mas a uma sociedade que possua ferramentas práticas e não teóricas capaz de conter essa linha ascendente maligna que avança cada dia mais, contra a liberdade, o direito e a vida das pessoas miseráveis, parafraseando o jurista empreendedor e educador, Luiz Flávio Gomes, a única classe de pessoas prisionáveis,  torturáveis e mortáveis do Brasil. Devemos assumir esse posicionamento humanitário para todos os brasileiros, em especial as crianças e aos adolescentes, uma vez que são muito mais susceptíveis a mudanças que um adulto. Ainda há tempo para mudar o futuro deste país.

*Conceição Cinti - Advogada. Educadora. Especialista em dependentes de substâncias psicoativas. Com experiência de mais de 27 anos no tratamento de dependentes. 

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