*Conceição
Cinti
Segundo estimativas
recentes o tráfico de drogas continua sendo a primeira economia ilícita do
mundo. É um agitado mercado, criminoso, mas um mercado que se movimenta e se
renova na mesma velocidade que os demais mercados desse mundo globalizado.
Fazem parte desse mercado as drogas naturais, as drogas semissintéticas e as
drogas sintéticas.
Drogas naturais são
obtidas através de determinadas plantas, animais e alguns minerais. As
drogas semissintéticas são produzidas a partir de drogas naturais quimicamente
alteradas em laboratórios.
Drogas sintéticas são fabricadas
em laboratórios, exigindo para isso técnicas especiais. Assim sendo,
drogas sintéticas são substâncias ou misturas de substâncias exclusivamente psicoativas
produzidas através de meios químicos cujos principais componentes ativos não
são encontrados na natureza. A grande maioria dos fármacos consumidos para
todos os fins são sintéticos, bem como aditivos alimentares e os cosméticos.
Por todo o mundo,
inclusive no Brasil tem se registrado um crescimento espantoso da popularidade
e do consumo das drogas sintéticas como, por exemplo, o Ecstasy,
cientificamente denominado MDMA C 3,4 – metilenodioximetanfetamina que é uma
substância química pertencente à família das anfetaminas, que tem propriedades
estimulantes e alucinógenas. Inicialmente sintetizado na Alemanha desde 1912
para ser um supressor do apetite, mas tendo apresentado alterações do estado de
consciência difíceis de ser controlados, por essa razão passou a ser
considerado uma droga poderosa e perigosa e seu uso terapêutico proibido.
Muito embora o uso
de drogas sintéticas esteja intimamente ligado a discotecas, raves, e haja
deliberada tendência de associa-lo a um objetivo recreativo e de diversão
porque estas substâncias são consideradas como facilitadoras da comunicação,
assumindo um papel determinante na interação desenvolvida naqueles espaços elas
oferecem muito risco à saúde porque a maioria dessas substâncias tem toxidade
altíssima e na prática são consumidas quando ainda são desconhecidos os
componentes do seu principio ativo. Consumidas ainda, predominantemente em
contextos recreativos, tendem a extravasar para o cotidiano como forma de suplantar
as experiências negativas prometendo ilusoriamente apenas enorme prazer,
euforia, diversão sem causar a síndrome de abstinência.
A droga sintética
associada aos cenários de lazer e diversão parece inofensiva e liga-se a outro
elemento essencial, a música que, através das ações psicotrópicas das
substâncias ingeridas, pode ampliar ou reduzir os efeitos ao nível da
expressão, motricidade, sentidos e afetividades.
Recomendamos a
leitura do Livro “O Universo do Ecstasy”, de Susana Henriques, onde dentre
outras descobertas poderemos constatar que as novas músicas para pista como “
House”, Trance, Dub, de uma maneira geral estão fortemente
conectadas ao consumo do Ecstasy (e demais drogas sintéticas) é poderá
potencializar os efeitos dessas drogas.
Enquanto o crack é
uma droga extremamente isoladora e em geral seu uso apresenta baixo interesse
sexual, aquelas drogas são para uso coletivo e seus efeitos duradouros. A
consequência mais grave registra-se a nível cerebral e comportamental, seus
efeitos produzem-se no SNC, nos nervos periféricos e no sistema
cardiovascular, provocando euforia, diminuição da fadiga e do sono e
poderá aumentar o desejo sexual. As drogas sintéticas também são alucinógenas,
estas substâncias provocam também sensação subjetiva de intensidade da
atividade mental, alteração das imagens corporais, menor distinção entre si
mesmo e o que o rodeia, apura os sentimentos de empatia, aumento da tensão
arterial, da glicemia e da temperatura, e se em excesso colapso cardiovascular
e convulsões.
Todavia, é criado
todo um clima de magnetismo envolvendo as drogas sintéticas no intuito de fazer
os jovens acreditar que essas drogas são menos prejudiciais ao organismo e
causam menos dependência. Mas tudo isso é engodo. As drogas sintéticas
apresentam inúmeros malefícios ao organismo são muito mais perigosas porque os
componentes do seu principio ativo são desconhecidos, ainda será objeto de
analise para sua posterior identificação. Esse fato acarreta um prejuízo que
pode ser letal para o usuário que para se beneficiar do uso da terapêutica mais
adequada, terá que aguardar a identificação das substâncias que foram
manipuladas. Pesquisas apontam para graves problemas de saúde ou morte.
Em recente
relatório publicado pela União Europeia, a cada semana uma nova droga sintética
é criada no mundo. No Brasil nos últimos cinco anos, apenas sete substâncias
foram identificadas e declarada droga, mas existem muitas substâncias
circulando pelo país que ainda não podem ser chamadas de drogas. O maior
problema para as autoridades é que cada nova substância precisa ser
classificada como controlada ou proibida e cadastrada pela ANSIVA para ser
considerada droga. Antes desse procedimento que segundo a ANVISA leva em média
dois meses é que uma substância poderá ser considerada uma droga ilícita e
passível de apreensão e criminalização.
Esse fato favorece o comércio ilegal das drogas sintéticas e consequentemente,
protege e dar mais liberdade para operacionalização ao traficante dessa
categoria de drogas, lamentavelmente.
Recomendamos também
o Filme “PARAÍSOS ARTIFICIAIS”, que mostra dentre outras coisas que as
drogas sintéticas cativam cada fez mais os jovens brasileiros. O
diretor do Filme Marcos Prado após estudar o tema durante três anos chegando a
uma conclusão importante, mas não surpreendente para quem trabalha na área de
prevenção e restauração de vidas disse: “Falta muita política de prevenção de
danos neste país... Falta política de informação para jovens”.
Marcos prado ficou
sabendo da existência da droga 2CB há um ano, mas somente a semana passada a
polícia de Florianópolis conseguiu apreender e registrar a existência no
Brasil, e até que o 2CB seja classificado como substância perigosa e ilícita
cadastrada pela ANVISA, outras novas drogas já estarão nas pistas de dança e
nas ruas FAZENDO VÍTIMAS.
A rotatividade
desse mercado criminoso em lançar novidade, lamentavelmente é mais veloz que os
instrumentos de controles do Governo. Ou seja, falando de outra forma: Falta o
básico, falta material humano para realizar a prevenção, a apreensão, a
classificação e o cadastramento pela ANVISA, falta material humano suficiente
para o enfrentamento nas fronteiras, a restauração de vidas e promover a
ressocialização nos presídios. Essa é a realidade do Brasil!
*Conceição Cinti.
Advogada. Educadora. Especialista em Tratamento de Dependentes de Substâncias
Psicoativas, com experiência de mais de três décadas.
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