domingo, 20 de maio de 2012

Drogas Sintéticas


*Conceição Cinti 

Segundo estimativas recentes o tráfico de drogas continua sendo a primeira economia ilícita do mundo. É um agitado mercado, criminoso, mas um mercado que se movimenta e se renova na mesma velocidade que os demais mercados desse mundo globalizado. Fazem parte desse mercado as drogas naturais, as drogas semissintéticas e as drogas sintéticas.

Drogas naturais são obtidas através de determinadas plantas, animais e alguns minerais. As drogas semissintéticas são produzidas a partir de drogas naturais quimicamente alteradas em laboratórios.

Drogas sintéticas são fabricadas em laboratórios, exigindo para isso técnicas especiais. Assim sendo, drogas sintéticas são substâncias ou misturas de substâncias exclusivamente psicoativas produzidas através de meios químicos cujos principais componentes ativos não são encontrados na natureza. A grande maioria dos fármacos consumidos para todos os fins são sintéticos, bem como aditivos alimentares e os cosméticos.


Por todo o mundo, inclusive no Brasil tem se registrado um crescimento espantoso da popularidade e do consumo das drogas sintéticas como, por exemplo, o Ecstasy, cientificamente denominado MDMA C 3,4 – metilenodioximetanfetamina que é uma substância química pertencente à família das anfetaminas, que tem propriedades estimulantes e alucinógenas. Inicialmente sintetizado na Alemanha desde 1912 para ser um supressor do apetite, mas tendo apresentado alterações do estado de consciência difíceis de ser controlados, por essa razão passou a ser considerado uma droga poderosa e perigosa e seu uso terapêutico proibido.

Muito embora o uso de drogas sintéticas esteja intimamente ligado a discotecas, raves, e haja deliberada tendência de associa-lo a um objetivo recreativo e de diversão porque estas substâncias são consideradas como facilitadoras da comunicação, assumindo um papel determinante na interação desenvolvida naqueles espaços elas oferecem muito risco à saúde porque a maioria dessas substâncias tem toxidade altíssima e na prática são consumidas quando ainda são desconhecidos os componentes do seu principio ativo. Consumidas ainda, predominantemente em contextos recreativos, tendem a extravasar para o cotidiano como forma de suplantar as experiências negativas prometendo ilusoriamente apenas enorme prazer, euforia, diversão sem causar a síndrome de abstinência.
A droga sintética associada aos cenários de lazer e diversão parece inofensiva e liga-se a outro elemento essencial, a música que, através das ações psicotrópicas das substâncias ingeridas, pode ampliar ou reduzir os efeitos ao nível da expressão, motricidade, sentidos e afetividades.

Recomendamos a leitura do Livro “O Universo do Ecstasy”, de Susana Henriques, onde dentre outras descobertas poderemos constatar que as novas músicas para pista como “ House”, Trance, Dub,  de uma maneira geral estão fortemente conectadas ao consumo do Ecstasy (e demais drogas sintéticas) é poderá potencializar os efeitos dessas drogas.

Enquanto o crack é uma droga extremamente isoladora e em geral seu uso apresenta baixo interesse sexual, aquelas drogas são para uso coletivo e seus efeitos duradouros. A consequência mais grave registra-se a nível cerebral e comportamental, seus efeitos produzem-se no SNC, nos nervos periféricos e no sistema cardiovascular, provocando euforia, diminuição da fadiga e do sono e poderá aumentar o desejo sexual. As drogas sintéticas também são alucinógenas, estas substâncias provocam também sensação subjetiva de intensidade da atividade mental, alteração das imagens corporais, menor distinção entre si mesmo e o que o rodeia, apura os sentimentos de empatia, aumento da tensão arterial, da glicemia e da temperatura, e se em excesso colapso cardiovascular e convulsões.

Todavia, é criado todo um clima de magnetismo envolvendo as drogas sintéticas no intuito de fazer os jovens acreditar que essas drogas são menos prejudiciais ao organismo e causam menos dependência. Mas tudo isso é engodo. As drogas sintéticas apresentam inúmeros malefícios ao organismo são muito mais perigosas porque os componentes do seu principio ativo são desconhecidos, ainda será objeto de analise para sua posterior identificação. Esse fato acarreta um prejuízo que pode ser letal para o usuário que para se beneficiar do uso da terapêutica mais adequada, terá que aguardar a identificação das substâncias que foram manipuladas. Pesquisas apontam para graves problemas de saúde ou morte.

Em recente relatório publicado pela União Europeia, a cada semana uma nova droga sintética é criada no mundo. No Brasil nos últimos cinco anos, apenas sete substâncias foram identificadas e declarada droga, mas existem muitas substâncias circulando pelo país que ainda não podem ser chamadas de drogas. O maior problema para as autoridades é que cada nova substância precisa ser classificada como controlada ou proibida e cadastrada pela ANSIVA para ser considerada droga. Antes desse procedimento que segundo a ANVISA leva em média dois meses é que uma substância poderá ser considerada uma droga ilícita e passível de apreensão e criminalização. Esse fato favorece o comércio ilegal das drogas sintéticas e consequentemente, protege e dar mais liberdade para operacionalização ao traficante dessa categoria de drogas, lamentavelmente.


Recomendamos também o Filme “PARAÍSOS ARTIFICIAIS”, que mostra dentre outras coisas que as drogas sintéticas cativam cada fez mais os jovens brasileiros. O diretor do Filme Marcos Prado após estudar o tema durante três anos chegando a uma conclusão importante, mas não surpreendente para quem trabalha na área de prevenção e restauração de vidas disse: “Falta muita política de prevenção de danos neste país... Falta política de informação para jovens”.

Marcos prado ficou sabendo da existência da droga 2CB há um ano, mas somente a semana passada a polícia de Florianópolis conseguiu apreender e registrar a existência no Brasil, e até que o 2CB seja classificado como substância perigosa e ilícita cadastrada pela ANVISA, outras novas drogas já estarão nas pistas de dança e nas ruas FAZENDO VÍTIMAS.

A rotatividade desse mercado criminoso em lançar novidade, lamentavelmente é mais veloz que os instrumentos de controles do Governo. Ou seja, falando de outra forma: Falta o básico, falta material humano para realizar a prevenção, a apreensão, a classificação e o cadastramento pela ANVISA, falta material humano suficiente para o enfrentamento nas fronteiras, a restauração de vidas e promover a ressocialização nos presídios. Essa é a realidade do Brasil!

*Conceição Cinti. Advogada. Educadora. Especialista em Tratamento de Dependentes de Substâncias Psicoativas, com experiência de mais de três décadas. 

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