segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Investimentos em políticas públicas de recuperação de dependentes químicos devem ser monitorados com mais precisão para que a recuperação aconteça de fato


Além do acolhimento, a garantia na sequência do tratamento, com início, meio e fim, é extremamente importante na ressocialização/recuperação de um dependente de drogas.


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Investimentos em polticas pblicas de recuperao de dependentes qumicos devem ser monitorados com mais preciso para que a recuperao acontea de fato
Ainda sobre o tratamento de dependentes de Substâncias Psicoativas (SPA), o amplo entrosamento de todos os segmentos que têm conhecimento e experiência prática sobre esse tipo de epidemia precisa ser respeitado. Sem isso, teremos uma solução capenga e ainda mais demorada para se obter resultados, o que significa mais cadáveres (lembrando o renomado jurista argentino Rául Zaffaroni). Quem conhece as características do crack sabe que as consequências desse tipo de droga são velozes e devastadoras.
Alguns já têm conhecimento de que o tratamento dos dependentes químicos tem início com o acolhimento, porém, muitos ainda confundem ‘recolhimento aleatório’ com acolhimento. Essas duas ações são totalmente diferentes. Diferentemente do recolhimento aleatório, o acolhimento pressupõe envolvimento humanitário e afetivo, que se constitui no eficaz amparo a alguém em total estado de vulnerabilidade sem que haja desrespeito aos direitos fundamentais do ser humano.
Ainda sobre a fase do acolhimento, considero uma das mais importantes no tratamento do dependente. Dessa etapa depende o êxito das demais, porque é nela que surge a empatia entre o paciente e a equipe. É nela que todo esforço dos profissionais envolvidos deve estar voltado para cativá-lo. Esse fato determinará o surgimento de um ‘comando’ e a aceitação do paciente em se deixar conduzir. Contudo, isso só é possível dentro de um contexto de respeito incondicional ao paciente.
Mesmo tendo ciência da importância dessa aproximação, muitos profissionais atuam de forma preconceituosa e indiferente em relação aos dependentes químicos de baixa renda, o que pode prejudicar todo processo de restauração do paciente. Por isso, é imprescindível que os profissionais que acompanham dependentes químicos se livrem de seus preconceitos e busquem cada vez mais acolher, ouvir e entender para tratar os pacientes de forma adequada, contribuindo para o sucesso do tratamento.
Além disso, é preciso uma mudança de olhar por parte do gestor desse tipo de programa. O mesmo que deve criar e implantar políticas públicas restaurativas e medidas socioeducativas no sentido de agregar valor à titulação acadêmica, que por si só não é suficiente para conferir ao gestor capacidade de administrar com êxito o recuperando.
Além do acolhimento, a garantia na sequência do tratamento, com início, meio e fim, é extremamente importante na ressocialização/recuperação de um dependente de drogas. O tratamento desses pacientes não deve, jamais, ter em vista o menor ônus aos cofres públicos, mas a continuidade das fases do programa, por meio das quais o recuperando vai aprendendo o passoapasso para se autodisciplinar e atingir o autocontrole sobre suas emoções, sentimentos e pensamentos. Somente essa disciplina o conduzirá à libertação da dependência.
É isso, salvo qualquer engano de minha parte, é o que ainda não parece bem definido pelo Governo. Talvez essa indefinição ainda esteja acontecendo devido ao grande número de dependentes, à falta de espaço físico adequado, além de pessoal capacitado e em número suficiente para atender adequadamente à demanda.
O certo é que, até o presente momento, não temos informações transparentes sobre como está acontecendo na prática a sequência do tratamento oferecido pelo Poder Público ao dependente químico de baixa renda. Um exemplo disso são os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que infelizmente ainda não têm um critério de atendimento que possibilite fácil acesso ao paciente de forma a assegurar que o recuperando dê continuidade ao tratamento.
Ao analisar o atendimento prestado por esses Centros Públicos, onde os pacientes são medicados e retornam para o convívio natural, podemos perceber que estes muitas vezes saem fisicamente mais fortalecidos em relação aos seus vícios, indo direito para as ‘bocas’ ou bares a fim de continuar a usar drogas. Isso acontece porque não é dada a eles nenhuma garantia de que irão prosseguir em tratamento. Percebe-se, portanto, que o atendimento realizado pelos CAPS não alcança seu objetivo e se constitui em mais um procedimento higienista de ruas que visa apenas o retorno político.
Maria da Conceição Damasceno Cinti
Advogada e educadora. Precursora da Educação Restaurativa, com experiência de mais de três décadas em tratamento de dependentes de substâncias psicoativas e em delinquência juvenil. Palestrante e autora do blog http://educacaorestaurativa.blogspot.com.br/

domingo, 21 de setembro de 2014

Dependente químico de baixa renda deve ter direito a tratamento com início, meio e fim

*Conceição Cinti

Trabalho das equipes jamais deve ser pautado pelo que é mais adequado ou menos oneroso aos cofres públicos, mas na recuperação do paciente.






Como expus em meu artigo anterior, o comprometimento pessoal das Comunidades Terapêuticas (CTs) e suas equipes com seus pacientes faz toda a diferença, fato que pode ser confirmado pela média de mais de 70% de vidas restauradas. Contra fato não há argumentos e ponto.
Ora, se o Brasil tem esse preciso Know-How, por que não somar forças para enfrentar essa epidemia? Porque há total ausência de vontade política e, quando há, ela está comprometida com pessoas que por algum motivo conseguem impedir que o gestor Federal cumpra as propostas feitas para área.
Outro fato de extrema importância na recuperação/ressocialização de um dependente de drogas é a garantia de sequência no tratamento, pois este deve ter início, meio e fim. Sendo assim, o trabalho das equipes jamais deve ser pautado pelo que é mais adequado ou menos oneroso aos cofres públicos, mas na recuperação do paciente.
É através das fases do programa que o recuperando vai aprendendo o passo a passo para se autodisciplinar e atingir o autocontrole sobre suas emoções, sentimentos e pensamentos. Essa disciplina o conduzirá à libertação da dependência. É isso, salvo qualquer engano de minha parte, que ainda não parece bem definido por parte do Governo.
O certo é que, até o presente momento, não temos informações transparentes sobre como acontece na prática a sequência do tratamento oferecido pelo Poder Público ao dependente químico de baixa renda. Esse fato merece uma profunda e urgente reflexão, principalmente quando o paciente é dependente de crack, pois se trata de dependência severa. Portanto, ao colocar em prática cada uma das políticas públicas elaboradas, é preciso ter mais consciência sobre se o trabalho desempenhado corresponde ao investimento público que foi feito.
Enquanto não é possível obter essa total transparência, sigamos sempre atentos e com olhar crítico e construtivo acerca de cada uma das políticas públicas destinadas à nossa sociedade e com a certeza de que precisamos deixar de ser o país do imediatismo. Quanto à possibilidade de recomeçar, acredito que só será possível se conseguirmos contemplar a integralidade do mundo das drogas para que possamos compreender e decidir adequadamente sobre cada medida adotada como parte do todo.
A luta contra as drogas é um dever de todos os cidadãos, porém, a severa discriminação imposta pela Sociedade Civil ao dependente químico, inclusive à criança e ao adolescente, só terá fim com intervenções planejadas do Estado, que demonstrem a sensibilização como melhor saída, gerando um espírito de solidariedade nacional.
O desafio é mostrar os benefícios, que por certo virão quando a postura destrutiva da discriminação e do uso desnecessário e exclusivo da repressão com essas pessoas visivelmente enfermas der lugar a uma postura humilde, que verdadeiramente promova a recuperação e a reinserção.
É nesse contexto que a mídia assume um papel fundamental, enquanto um poderoso instrumento democrático, e ‘abre alas’ para levar a sociedade e os Governos a refletirem sobre suas responsabilidades. E porque não usar a sua influência na sociedade para transmitir que o acolhimento com amor é o caminho para proteger e tratar nossas crianças e jovens e que a artilharia pesada deve ser empregada para o devido enfrentamento ao tráfico de drogas.
Nessa guerra, duas frentes precisam ser consideradas: enfermos a serem assistidos e tratados até serem restaurados e criminosos que precisam ser contidos e mantidos presos incomunicáveis. O fato é que as mudanças culturais e sociais se processam muito lentamente e, enquanto isso, a vida e os direitos dos nossos meninos e meninas precisam ser urgentemente protegidos.
Nesse sentido, o Estado detém um valioso instrumento que nos permitirá transpor esse fosso com mais rapidez, conforme exige a situação: a negociação! Esse sim é o instrumento apropriado. A luta no enfrentamento às drogas é dever de todos.
Precisamos não apenas refletir sobre essa epidemia que estamos vivendo no Brasil, mas nos engajarmos nessa luta, por uma sociedade melhor para nossas crianças, adolescente e jovem, que tem sido as maiores vitimam de homicídios na guerra gerada pelas drogas.
*Conceição Cinti. Advogada e educadora. Precursora da Educação Restaurativa,com experiência de mais de três décadas em Tratamento de Dependentes de Substâncias Psicoativa, e ou Delenquencia Juvenil. Palestrante. Articulista de alguns renomados Sites, autora do blog http://educacaorestaurativa.blogspot.com.br/



Restaurar vidas é acolher, amar e acreditar no dependente de SPA



Além da necessidade de investimento massivo em políticas públicas no setor, o mais importante para esses dependentes é o acolhimento amoroso e dedicado de todos que o cercam, desde a família, até os profissionais que estão encarregados de restaurar suas vidas!

Antoine de Saint-Exupéry: “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos!”

De lá para ca, muito foi prometido e pouco foi executado. Por quê? Porque temas como ‘drogas’ e ‘dependentes químicos de baixa renda’ nunca foram prioridade para nossos governantes. Não temos tradição em políticas públicas preventivas de alcance à família e à escola. Também nunca demos a devida importância aos programas de Restauração de Vidas. Isso porque Governo e sociedade civil não acreditaram esse tipo de iniciativa. A palavra ‘Restauração’ sempre foi um assunto restrito a objetos de arte e não a seres humanos, mas também é perfeitamente possível restaurar pessoas. Entretanto, é preciso dizer que é difícil, demorado e dispendioso, não arrecada votos e requer investimento de tempo. Por certo, essas são as razões porque a proposta de Restauração de Vidas sempre foi rechaçada pelos políticos, juntamente com o aval dos cientistas.
É verdade que não há chás, comprimidos, injeções, supositórios, acupuntura, choques, procedimentos psicológicos e psiquiátricos que por si só sejam capazes de curar um dependente em substâncias psicoativas. O discurso nessa área é polarizado entre o ponto de vista da Comunidade Cientifica (CC) e o da Comunidade Terapêutica (CT). A primeira sempre perseguindo a segunda porque é a Comunidade Terapêutica, e não a Comunidade Cientifica, a pioneira a ser exitosa na área de drogadição desde os idos da década de 60, quando nasceu a primeira Comunidade Terapêutica no Brasil, mais precisamente na cidade de Goiânia-GO.
A Comunidade Terapêutica surgiu, a princípio, com um apelo puramente religioso/espiritual e de amor incondicional ao ser humano. Quando falo de espiritual, para ser mais precisa, estou me reportando ao poder do Espírito Santo, que para os que crêem (que são a maioria em nossos país) apenas o Espírito Santo tem condições de entrar e curar áreas da nossa alma, compreendida por nossos pensamentos/emoções e sentimentos.De lá para ca, já se foi quase meio século e a Comunidade Terapêutica nunca menosprezou nem banalizou o sofrimento de seus pacientes, operacionalizando sempre com dedicação, respeito e persistência. As CTs, na verdade, funcionam como um consultório/laboratório, que por meio das experiências vivenciadas pelos líderes e suas equipes puderam estudar os hábitos, costumes, sintomas/dores físicas, mentais, psicoemocionais e espirituais dos seus alunos/pacientes e encontraram alternativas que somaram para dignificar o ser humano. As CTs também incorporaram tudo o que há disponível na ciência para trazer mais libertação e alívio aos seus pacientes.
Nesse meio tempo, a Comunidade Científica não trouxe novidades, nem no campo farmacológico, pois continua objetivando manter o domínio e a última palavra sobre o dependente químico. A única “mudança” foi a substituição da camisa de força de pano pela camisa de força química. Outra problemática na atuação das CCs é que elas consideram o dependente em SPA como um doente incurável, afirmação que vem comprometendo o futuro de milhares de pessoas. Quando digo a alguém que ele é um doente incurável, retiro dessa pessoa e de sua família a esperança de um amanhã diferente.
Todo dependente é um doente, mas não incurável. Todos podem ser curados, mas nem todos são curados, de fato. Para que isso seja possível, é importante que se utilize a metodologia adequada. Outro fator importante é o quanto de amor e tempo os pais, familiares e a equipe multidisciplinar estão dispostos a investir na vida do dependente. Esse fato, sim, faz toda a diferença!

*Conceição Cinti. Advogada e educadora. Precursora da Educação Restaurativa. Especialista em Tratamento de Dependentes em Substancias Psicoativa, e ou Delinquência Juvenil, com experiencia de mais três décadas. Palestrante e articulista de alguns renomados sites. Me encontre no Jusbrasil e no http://educacaorestaurativa.blogspot.com.br 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Desunião entre Comunidade Cientifica e Comunidade Terapêutica compromete o avanço na Restauração de Vidas de Dependentes de SPA, de baixa Renda



A restauração de vidas dos dependentes de drogas é um assunto delicadíssimo e ainda não pacífico Por essa razão, é preciso muita cautela na sua gestão para não comprometermos esse significativo avanço após décadas de indiferença, descaso, descrédito por parte daqueles que tinham a obrigação de cuidar.

Publicado por Maria da Conceição Damasceno Cinti - 5 horas atrás
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Desunio entre Comunidade Cientfica e Comunidade Teraputica compromete o avano na restaurao da vida de dependentes de SPA
A discussão sobre o tratamento de recuperação de dependentes químicos está em pauta ultimamente após ir a público a notícia da resolução do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) - que proíbe as comunidades terapêuticas incluir religião no tratamento de recuperação dessa parcela da população. A meu ver, esse documento representa o reforço da falta de vontade política (Governo Federal) e da Comunidade Cientifica, que insistem em desestabilizar a Comunidade Terapêutica. Em vez de somar para otimizar o resultado do enfrentamento que um país epidêmico precisa implantar, esses representantes seguem na contramão de tratamentos completos e realmente efetivos.
Acredito que o grande hiato que separa a Comunidade Terapêutica da Comunidade Cientifica é o fato de a Comunidade Cientifica atestar que o dependente químico é um doente incurável. Esta afirmação que a Ciência ainda não tem uma resposta autônoma para esse tipo de enfermidade é intransigente e severa. Porém, é sabido que redirecionar o futuro do ser humano é algo muito sério. Quando dizemos a uma pessoa dependente em SPA (ou a seus pais) que ela é incurável retiramos dele (a) e da sua família a única chance de lutar pela sua restauração.
Nesse contexto, as pessoas de menor poder aquisitivo, por não terem condições financeiras para pagar uma clínica particular, saem ganhando. Ao recorrer à Comunidade Terapêutica, estas contam com aliados à sua restauração e renovam suas forças para lutar, sobretudo porque a Comunidade Terapêutica acredita e investe na Restauração de Pessoas.
Tratamentos
Hoje, no Brasil, temos dois tipos de metodologias que vêm sendo utilizadas isoladamente no tratamento do dependente químico, a da Comunidade Terapêutica e a da Comunidade Cientifica. A primeira, que sempre foi criticada severamente pela segunda, tem no Poder de Deus e seus ensinamentos a coluna mestra dos seus programas de restauração de dependentes em SPA, apesar de não dispensarem os recursos da ciência na cura do dependente químico. Esta reconhece que o ser humano é trino e que existem áreas das nossas vidas que apenas o Espírito Santo poderá adentrar e tratar. Já a segunda, tem somente nos estudos científicos a solução (ou não solução) para a problemática.
Com o lançamento pelo Governo Federal do denominado ‘Cartão Recomeço’, programa para dependentes químicos, houve grande expectativa de que a bandeira branca fora hasteada entre as duas comunidades e que o Governo e a Comunidade Cientifica. A partir daquele momento, elas somariam suas atuações pela restauração de vidas, que antes só era admitida pelas Comunidades Terapêuticas. Lamentavelmente, o Governo, ao invés de fazer uso da vontade política para somar a favor da restauração de vidas, permite a divisão e, pior ainda, abre espaço para uma perseguição religiosa. Infelizmente, um grande retrocesso.
Especialistas x experientes
É importante valorizar o trabalho dos especialistas, mas é também igualmente imprescindível reconhecer o trabalho de quem tem experiência de campo na área. Entretanto, não é admissível que uma pessoa seja considerada um especialista, mas que não consiga operacionalizar na prática. Por isso, precisamos respeitar aqueles que de alguma forma foram pioneiros e obtiveram êxito numa área tão complexa como essa.
Salta aos olho que é urgente a necessidade de integração entre o Governo e os verdadeiros especialistas, sendo esse o primeiro desafio. O combate a essa endemia causada pelas drogas somente acontecerá com uma perfeita articulação. A participação da sociedade civil e da opinião pública é um novo paradigma para enfrentar o problema das drogas, que hoje está menos centrado nas ações penais para ser mais inclusivo no plano da sociedade e da cultura. As novas políticas devem, dentre outras medidas, contemplar e valorizar mais práticas religiosas e estudos científicos. É importante que estas deixem de lado princípios ideológicos e preconceituosos, na prática.
Além do conflito religioso e de preconceito, acredito que esse grande impasse entre Comunidade Terapêutica e Comunidade Científica tem origem na disputa pela divisão da verba que foi destinada pelo Governo Federal para as C. Cientificas (clinicas particulares que abrigam dependentes químicos) e C. Terapêuticas, que são em maior número. Portanto, antes de pensar somente em fatores culturais, também é importante observar uma série de fatores, sobretudo os de interesse financeiro, que estão envolvidos em propostas como as do CONAD.
Enfim, a construção de alternativas é um processo necessário para fazer frente à lacuna da ciência para a cura do adicto. Requer, ainda, um esforço para reunir o Governo Federal, profissionais da saúde, educadores, líderes espirituais, instituições de justiça e de segurança, líderes espirituais, famílias, formadores de opinião e a imprescindível mídia. Cada país é único, tem suas particularidades e deve enfrentar o desafio das drogas por meio do amplo debate público sobre a gravidade do problema e buscar as políticas mais adequadas à sua historia e à sua cultura, sem espaço para preconceitos e indiferenças.
A restauração de vidas dos dependentes de drogas é um assunto delicadíssimo e ainda não pacífico Por essa razão, é preciso muita cautela na sua gestão para não comprometermos esse significativo avanço após décadas de indiferença, descaso, descrédito por parte daqueles que tinham a obrigação de cuidar. Quando o bem a ser protegido é a vida, tudo o que possa vir a somar com dignidade é bem-vindo!
Todo dia é dia de lutar pela vida e contra a violência gerada pelas drogas!

sexta-feira, 5 de setembro de 2014



Aos caros seguidores do "Educação Restaurativa" recomendo que assistam na íntegra, o vídeo do
Senador Magno Malta,  para melhor compreensão do texto que aborda um tema que ainda acarreta muita polemica.


http://youtu.be/W47LbsD4O0E

Religião é imprescindível no tratamento de dependentes químicos



Por Conceição Cinti

Após denúncia feita pelo senador Magno Malta PR/ES, em sessão plenária realizada em 20 de agosto de 2014, no Senado Federal, a qual versa sobre a resolução do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) - que proíbe as comunidades terapêuticas incluir religião no tratamento de recuperação de dependentes químicos, me senti na obrigação de trazer aqui o discurso de uma profissional que atua há décadas com essa parcela da população brasileira.
Ao meu ver, esse documento representa o reforço da falta de vontade política (Governo Federal) e da Comunidade Cientifica que insistem em desrespeitar a Comunidade Terapêutica. Em vez de somar para otimizar o resultado do enfrentamento que um país epidêmico precisa implantar, esses representantes seguem na contramão de tratamentos completos e realmente efetivos.
Por isso, começo com as propostas absurdas contidas na resolução federal que será editada em setembro pela presidente Dilma, e que tem como um dos autores Vitore Maximiliano, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. A mais polêmica delas diz que “clínicas de dependentes químicos, comunidades terapêuticas não poderão mais falar sobre religião”. Ainda de acordo com o documento, o tratamento feito nesse tipo de comunidade é questionável, pois combina ciência médica com dogmas religiosos e, na verdade, deveria ser laico.
Em seu pronunciamento, o senador Magno Malta diz que é preciso vetar esse documento o mais rápido possível, “cortar o mal pela raiz antes que ele cresça”. O político, que há 35 anos investe em trabalhos que visam tirar os dependentes de substâncias psicoativa das ruas, sobretudo por meio do ‘Projeto Vem Viver’, reforçou que “são os religiosos que estão na ponta dessas entidades que atuam na área”. Ainda segundo ele, o dependente químico não precisa somente de uma estrutura material e cientifica para se recuperar, ele carece de amor, afeto e de alguém que esteja disposto a colocar a vida a serviço dele.       
Como conhecedora do assunto, concordo com as bem postas palavras de Malta e reafirmo que não há comprimido chá, xarope, injeção, pastilha, gotas, supositório, adesivo, fisioterapia, acupuntura, procedimento psicológico, psiquiátrico que por si só traga a cura ao dependente de substâncias psicoativa. Em outras palavras, a ciência ainda não tem resposta para esse mal, mas as pesquisas continuam incessantes e qualquer novidade será bem-vinda.
Enquanto isso, na prática, os médicos têm usado os recursos disponíveis da psiquiatria, psicologia e farmacologia para auxiliar esse novo tipo de paciente. A velha camisa de força (de pano) foi substituída pela camisa de força química, que imobiliza o portador de dependência severa evitando sua morte por overdose ou debilitações múltiplas, possibilitando seu atendimento emergencial.
O problema é como cuidar desse paciente, após sobreviver à emergência? Os atendimentos a esse público-alvo são feitos através das clínicas particulares, cujos pacientes são pessoas de maior poder aquisitivo, e nas Comunidades Terapêuticas, e mais recentemente pelo o SUS (mais especificamente através dos CAPS), que atendem pessoas de baixa renda. Porém, é do conhecimento público que o tratamento para esse tipo de dependente é um quesito que ainda desafia a área médica e tem provocado alguns equívocos.
Comunidade Científica x Comunidade Terapêutica
A Comunidade Cientifica sempre soube da ausência do Estado na assistência ao dependente de baixa renda, bem como da existência do atendimento exitoso aos dependentes, sobretudo por instituições filantrópicas e entidades religiosas, desde a década de 60. Também é sabido que a primeira Comunidade Terapêutica voltada exclusivamente para o atendimento e restauração ao adicto foi criada em 1967, na cidade de Goiânia, pela missionária Ana Maria Brasil. Sendo assim, é fato que a Comunidade Terapêutica Cristã foi pioneira nesse complexo atendimento humano.
Retomando o que eu já disse em entrevista concedida a renomado Portal Atualidades do Direito, sempre houve um desconforto por parte da Comunidade Cientifica em relação a esse tipo de atendimento/acolhimento, em sua maioria realizados com excelência pelas Comunidades Terapêuticas, para dependentes químicos de baixa renda. Aliás, esse público nunca foi o foco da Comunidade Cientifica.
Nota-se, então, que Comunidade Cientifica e Comunidade Terapêutica sempre caminharam separadamente e têm posições antagônicas no trato com o dependente de SPA. É importante clarificar que estão totalmente equivocados os que tentam manter o distanciamento entre esses dois preciosos seguimentos. Essa separação em nada soma para o bem estar da sociedade. Pelo contrario, é nociva aos desfavorecidos acometidos pelas drogas e ainda reforça o efeito bumerangue.
O consistente e persistente atendimento a esse tipo de paciente, que voluntariamente foi iniciado pelo Terceiro Setor (embora alguns tentem sabotar a qualquer custo), consiste, primeiramente, num singelo e sincero investimento de amor na vida do próximo. Graças a esse singelo atendimento de amor é que o Brasil evoluiu nessa área e que hoje podemos dizer que o Brasil tem ‘Know How’ em tratamento de dependente em SPA, sobretudo devido à atuação das Comunidades Terapêuticas (evangélicas e católicas) e das diversas outras religiões e grupos que serão sempre bem-vindos e imprescindíveis para somar e fazer a diferença.
Sabemos que o problema é complexo e delicadíssimo, mas o Brasil precisa urgentemente encarar essa realidade. Costumo dizer que Restaurar vidas é difícil, demorado, dispendioso e dolorido, mas é perfeitamente possível. Porém, dá muito trabalho e não arrecada votos. Pense nisso!
 Todo dia é dia de lutar pela vida e contra a violência gerada pelas drogas!
*Conceição Cinti. Advogada e Educadora. Precursora da Educação Restaurativa. Especialista em Tratamento de Dependentes de Substancias Psicoativa, com experiência de mais de três décadas. Colunista de sites importantes e palestrante.