terça-feira, 9 de setembro de 2014

Desunião entre Comunidade Cientifica e Comunidade Terapêutica compromete o avanço na Restauração de Vidas de Dependentes de SPA, de baixa Renda



A restauração de vidas dos dependentes de drogas é um assunto delicadíssimo e ainda não pacífico Por essa razão, é preciso muita cautela na sua gestão para não comprometermos esse significativo avanço após décadas de indiferença, descaso, descrédito por parte daqueles que tinham a obrigação de cuidar.

Publicado por Maria da Conceição Damasceno Cinti - 5 horas atrás
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Desunio entre Comunidade Cientfica e Comunidade Teraputica compromete o avano na restaurao da vida de dependentes de SPA
A discussão sobre o tratamento de recuperação de dependentes químicos está em pauta ultimamente após ir a público a notícia da resolução do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) - que proíbe as comunidades terapêuticas incluir religião no tratamento de recuperação dessa parcela da população. A meu ver, esse documento representa o reforço da falta de vontade política (Governo Federal) e da Comunidade Cientifica, que insistem em desestabilizar a Comunidade Terapêutica. Em vez de somar para otimizar o resultado do enfrentamento que um país epidêmico precisa implantar, esses representantes seguem na contramão de tratamentos completos e realmente efetivos.
Acredito que o grande hiato que separa a Comunidade Terapêutica da Comunidade Cientifica é o fato de a Comunidade Cientifica atestar que o dependente químico é um doente incurável. Esta afirmação que a Ciência ainda não tem uma resposta autônoma para esse tipo de enfermidade é intransigente e severa. Porém, é sabido que redirecionar o futuro do ser humano é algo muito sério. Quando dizemos a uma pessoa dependente em SPA (ou a seus pais) que ela é incurável retiramos dele (a) e da sua família a única chance de lutar pela sua restauração.
Nesse contexto, as pessoas de menor poder aquisitivo, por não terem condições financeiras para pagar uma clínica particular, saem ganhando. Ao recorrer à Comunidade Terapêutica, estas contam com aliados à sua restauração e renovam suas forças para lutar, sobretudo porque a Comunidade Terapêutica acredita e investe na Restauração de Pessoas.
Tratamentos
Hoje, no Brasil, temos dois tipos de metodologias que vêm sendo utilizadas isoladamente no tratamento do dependente químico, a da Comunidade Terapêutica e a da Comunidade Cientifica. A primeira, que sempre foi criticada severamente pela segunda, tem no Poder de Deus e seus ensinamentos a coluna mestra dos seus programas de restauração de dependentes em SPA, apesar de não dispensarem os recursos da ciência na cura do dependente químico. Esta reconhece que o ser humano é trino e que existem áreas das nossas vidas que apenas o Espírito Santo poderá adentrar e tratar. Já a segunda, tem somente nos estudos científicos a solução (ou não solução) para a problemática.
Com o lançamento pelo Governo Federal do denominado ‘Cartão Recomeço’, programa para dependentes químicos, houve grande expectativa de que a bandeira branca fora hasteada entre as duas comunidades e que o Governo e a Comunidade Cientifica. A partir daquele momento, elas somariam suas atuações pela restauração de vidas, que antes só era admitida pelas Comunidades Terapêuticas. Lamentavelmente, o Governo, ao invés de fazer uso da vontade política para somar a favor da restauração de vidas, permite a divisão e, pior ainda, abre espaço para uma perseguição religiosa. Infelizmente, um grande retrocesso.
Especialistas x experientes
É importante valorizar o trabalho dos especialistas, mas é também igualmente imprescindível reconhecer o trabalho de quem tem experiência de campo na área. Entretanto, não é admissível que uma pessoa seja considerada um especialista, mas que não consiga operacionalizar na prática. Por isso, precisamos respeitar aqueles que de alguma forma foram pioneiros e obtiveram êxito numa área tão complexa como essa.
Salta aos olho que é urgente a necessidade de integração entre o Governo e os verdadeiros especialistas, sendo esse o primeiro desafio. O combate a essa endemia causada pelas drogas somente acontecerá com uma perfeita articulação. A participação da sociedade civil e da opinião pública é um novo paradigma para enfrentar o problema das drogas, que hoje está menos centrado nas ações penais para ser mais inclusivo no plano da sociedade e da cultura. As novas políticas devem, dentre outras medidas, contemplar e valorizar mais práticas religiosas e estudos científicos. É importante que estas deixem de lado princípios ideológicos e preconceituosos, na prática.
Além do conflito religioso e de preconceito, acredito que esse grande impasse entre Comunidade Terapêutica e Comunidade Científica tem origem na disputa pela divisão da verba que foi destinada pelo Governo Federal para as C. Cientificas (clinicas particulares que abrigam dependentes químicos) e C. Terapêuticas, que são em maior número. Portanto, antes de pensar somente em fatores culturais, também é importante observar uma série de fatores, sobretudo os de interesse financeiro, que estão envolvidos em propostas como as do CONAD.
Enfim, a construção de alternativas é um processo necessário para fazer frente à lacuna da ciência para a cura do adicto. Requer, ainda, um esforço para reunir o Governo Federal, profissionais da saúde, educadores, líderes espirituais, instituições de justiça e de segurança, líderes espirituais, famílias, formadores de opinião e a imprescindível mídia. Cada país é único, tem suas particularidades e deve enfrentar o desafio das drogas por meio do amplo debate público sobre a gravidade do problema e buscar as políticas mais adequadas à sua historia e à sua cultura, sem espaço para preconceitos e indiferenças.
A restauração de vidas dos dependentes de drogas é um assunto delicadíssimo e ainda não pacífico Por essa razão, é preciso muita cautela na sua gestão para não comprometermos esse significativo avanço após décadas de indiferença, descaso, descrédito por parte daqueles que tinham a obrigação de cuidar. Quando o bem a ser protegido é a vida, tudo o que possa vir a somar com dignidade é bem-vindo!
Todo dia é dia de lutar pela vida e contra a violência gerada pelas drogas!

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